Oi moçada bonita!
Outro dia no twitter fiquei sabendo que o Anime Friends taí
na porta e não demora a chegar. Eu gostava de ir nesses eventos, não vou
mentir. Principalmente para comprar coisas com descontos. Mas nos últimos anos
não tenho ido a nenhum. Falta de tempo, grana e acho que a minha paciência anda
se esgotando. Tá pra nascer lugar onde você seja mais maltratado que em evento
de animê. Staff mal educado, música altíssima, comida cara e escassa e sempre
os piores lugares para ajeitar todo mundo. Mas se existe uma categoria que
apanha há anos em eventos são os fanzineiros. Nem judas em sábado de aleluia
recebe tanto carinho...
Na minha época o que bombava era Naruto nos eventos. E hoje? Nem sei...
No distante passado, ser fanzineiro era algo legal. Você
tinha um certo status, uma moral. “Porra, eu desenho e crio minhas histórias!”.
Mesmo mal desenhado e copiado de Cavaleiros do Zodíaco até dizer chega, você
era mais que um fã. Você era alguém que produzia. Vender pela internet não
funcionava, tinha que ir aos eventos, mesmo aqueles bem chulé. A estrutura era
muito fraca, uma mesa ou cadeira para expor o seu material. Mas pelo menos
tinha algum respeito, sabe? Você era parte do evento, parte das atrações, as
pessoas vinham olhar, comprar, falar que seu personagem era a cara da Ryoko.
Mas e hoje? O que é o fanzineiro?
Você vai nos eventos pra quê exatamente? Eu vou pra comprar e compro nada.
O último evento que fui vender fanzines faz tempo. Foi num
Anime Friends e ganhamos mesa e pôster. O local não era de todo ruim, acho que
nos colocaram em um lugar estratégico, pois para chegar até outro espaço tinha
que passar por nós. Depois desse ano, parei com zines e ao longo dos seguintes
só fiquei sabendo das reclamações do pessoal. No último AF que fui apenas como
fã, o local para zines era escondido e o número de artistas bem menor. Para
chegar aos fanzines tinha que subir escadas e mais escadas. Não era mesmo um
espaço visível e isso é a morte para os amadores. Quem vai lá comprar material
amador por 5 reais se aquele chaveiro do Fullmetal Alchemist tá te namorando
ali no térreo? Quando conseguir subir, já deixou os olhos da cara na
barraquinha de piratarias!
Comiket no Japão é igual a ufologia: você vê as fotos, mas ainda assim não acredita.
Quando vi que o site do AF estava no ar, dei uma olhada na
parte de zines e descobri que o fanzineiro paga uma taxa, mas entra de graça. O
ajudante paga uma taxa menor, mas parece que tem que pagar ingresso (é isso mesmo, produção?). Agora,
queridos, pensem comigo: o ajudante que vai ao AF está lá pra curtir o evento
ou ficar no lugar do fanzineiro enquanto ele vai ao banheiro ou come alguma
coisa? “Mas tem muita gente que abusa, sabe? Vai pra curtir o evento!”. A
sensação que me dá é que quem faz essas regras nunca foi fanzineiro. Ficar lá almejando que alguém veja e compre o seu trabalho, num lugar que deve ser bem ruim, é
muito cansativo. É FUNDAMENTAL alguém pra te ajudar! Ambos deveriam entrar de
graça, ou pelo menos o ajudante pagar um ingresso mais barato.
A qualidade dos fanzines japoneses não é só no desenho: olha o capricho das revistas! Agora imagina quanto não sai um acabamento desses no Brasil?
E aquela regra de que mesmo que o fanzine esgote você tem
que ficar na mesa? Que diabo é isso? Eu levo minha tiragem, ela esgota e eu não
posso sair? É uma punição? “Mas aí a pessoa leva 5 exemplares, vende e sai
aproveitando o evento de graça....” Gente, pelo amor de Deus! Vamos estipular a
tiragem mínima, mas manter a pessoa presa ali, a impedindo de circular de graça
é ridículo. Acho que o pessoal desses eventos deve achar que fanzine se faz sozinho, que sai no 0800. O custo de um fanzine dentro de uma tiragem de 50 exemplares
vai sair bem mais caro que um ingresso. Acho muito difícil que alguém produza
um zine para entrar de graça no AF! Estão notando a lógica louca disso tudo?
Que culpa tem a pessoa se o fanzine dela foi um sucesso e esgotar? Parece até
que esses 15 fanzineiros vão levar o evento à falência...
A coragem (e a cara de pau) dos cosplayers ainda é o must dos eventos...
Quem fazia fanzines na minha época (e acredito que ainda
seja assim) fazia por amor. Amor ao mangá, aos seus personagens, aos personagens dos outros. Eu estava ali
tentando vender minhas ideias, meu desenho, fazer amigos, ver as pessoas lendo
meu material. Essa vida de amador-fanzineiro-batalhador é muito sacrificante.
Você gasta dinheiro, vira noites desenhando, montando no computador e quando
vai vender corre o sério risco de ser tratado como alguém que só quer entrar de
graça. Te jogam num canto qualquer sem a menor cerimônia. E depois ainda falam
que o pessoal não quer produzir, que o mangá está em decadência...
Quem ainda tem paciência pra esse tipo de coisa?